Cooperativas no caminho de recuperação no RS

 Gisele Loeblein

Campo Aberto – Jornal Zero Hora

 

Se conseguir concretizar as últimas negociações em curso, a Cooperativa Mista Tucunduva Ltda (Comtul) poderá se transformar em um marco importante na história recente do segmento no Rio Grande do Sul. A associação de produtores estima chegar ao fim deste mês livre da atual condição: desde julho de 2014, está em liquidação extrajudicial. O mecanismo é semelhante ao de recuperação judicial, utilizado pelas empresas.

– Estamos muito perto de encerrar o processo. Faltam duas renegociações bancárias, que estão adiantadas – afirma Enilto Balbinot, presidente liquidante da Comtul.

Com 1.177 associados e 6 mil clientes, a cooperativa viu suas contas ruírem. Mas conseguiu se reerguer. Hoje, embora ainda tenha um passivo a negociar, está perto de recuperar a saúde financeira. Fechou 2016 com faturamento de R$ 200 milhões – os números estão sendo fechados –, fez renegociações e quitou 30% da dívida com os agricultores.

Para o liquidante, o apoio forte dos produtores e da comunidade e as boas safras foram fundamentais:

– Conseguimos chamar o produtor para um trabalho conjunto.

Presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires também entende a participação ativa do quadro social como determinante para que se possa sair da liquidação extrajudicial – condição em que se encontram hoje nove das associadas da entidade.

– Temos diferentes situações. Há cooperativas bem alinhadas para sair. A maior parte dos problemas é antiga. Muitas vezes, investimentos errados são feitos.

Advogado do escritório Souto Correa que atua na reestruturação de cooperativas, Fernando Pellenz entende que um dos pecados cometidos no segmento é a demora em reconhecer a gravidade dos percalços financeiros e em solicitar a liquidação. Pires concorda:

– Muitas vezes, os dirigentes demoram para tomar a iniciativa, até porque acham que vai haver uma solução para os problemas.

Para conseguir abandonar a condição (a lei permite um ano, prorrogável por mais um, período em que as cobranças ficam suspensas), o advogado avalia que a “força da união dos associados é importante, porque impacta a reação durante a crise”.

– Há ainda a habilidade em negociar com os credores – acrescenta Pellenz.

Em negociação

Cosulati: tem 2,9 mil associados em 45 municípios. Com passivo de R$ 168 milhões, aprovou a liquidação judicial em assembleia em 8 de novembro do ano passado – do total, 54% são de dívidas bancárias.

Cotrijui: com dívidas que somavam cerca de R$ 1 bilhão, aprovou o pedido de liquidação extrajudicial em setembro de 2014. Segue na condição. O liquidante Vanderlei Fragoso prefere o termo moratória e diz que já foram amortizados mais de R$ 300 milhões de passivos. A previsão é fechar o primeiro semestre com plano estratégico para 10 anos concluído.

Cotrimaio: com 13 mil associados e filiais em 16 municípios, entrou em liquidação extrajudicial em 2013. Segundo o liquidante Silceu Dalberto, mais de 90% das dívidas – que na época somavam R$ 500 milhões – foram quitadas ou estão com os parcelamentos sendo cumpridos. O sonho é poder chegar aos 50 anos da entidade, em fevereiro de 2018, livre da condição.

Comtul: atua em duas regiões, Tucunduva e Missões. Tem 10 unidades de recebimento de grãos e lojas agropecuárias, seis supermercados e três postos de combustíveis. Poderá sair neste mês da condição de liquidação.

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